terça-feira, 26 de julho de 2011

Um tiro no pé

A indústria fonográfica tem acumulado perdas em sua arrecadação desde a digitalização do fonograma, cujo marco histórico foi o surgimento do CD, o disco compacto que veio em substituição ao antigo LP de vinil.
     As gravadoras e editoras, no mercado, atuavam como uma represa, contendo para si as obras que serão publicadas, realizando a interação comercial entre mercado e consumidor, contratando artistas e, muito justamente, obtendo seus dividendos.
     Mas a pirataria de obras audiovisuais têm posto em cheque o natural avanço tecnológico,  DVDs e CDs, com títulos tão recentes quanto os últimos lançamentos, encontram-se disponíveis em qualquer esquina dos centros comerciais.
     Dois fatores podem ser apontados como causadores: um é sócio-cultural, cujo assunto requer uma abordagem mais complexa, pois se trata de uma questão comportamental. O outro diz respeito ao formato digital. Foi aí que a coisa se degringolou e é este o ponto que interessa aqui.
     O fato é que, digitalizado o fonograma (gravação de uma peça musical), o formato eleito pela indústria funcionou como o primeiro fio de água que atravessa e rompe as paredes de uma represa.
     Antes da digitalização quem quisesse possuir uma obra era obrigado a fazê-lo de forma física, quer seja adquirindo a obra editada ou, no máximo, copiando em fita cassete. Mas era necessário que se possuísse o objeto que continha o fonograma: discos ou fitas. Hoje em dia, traduzidos em algoritmos (linguagem por meio da qual a informação digital é armazenada), os fonogramas encontram-se espalhados pela rede de  computadores e são multiplicados em I-Pods e celurares afora.
     Há muito trabalho por parte das editoras em tentar resguardar direitos, porém a tarefa é inglória por não haver o menor controle sobre onde se armazenam e por onde ocorre o fluxo das informações digitalizadas. E, além do mais, como é possível represar a água que já passou?
     O cenário acaba voltando-se contra as gravadoras e editoras que buscam soluções mas parecem não saber o rumo certo. E o fato é que ninguém sabe. A indústria fonográfica, tal como conhecemos e permaneceu sem grandes mudanças durante todo o século passado, pode se afirmar que já não existe mais.
     A digitalização do fonograma é, para as gravadoras, um tiro no pé que desnuda um império responsável pelo movimento de bilhões de dólares e se articula em busca de plataformas mais acessíveis, não ao consumidor diretamente, mas ao seu poder de consumo, distribuindo conteúdo através de aplicativos e downloads em pacotes de celulares.
     Quanto aos artistas, esses acabam sendo bem menos lesados do que se imagina. É muito raro encontrar aquele que realmente lucra com a venda comercial dos CDs ou DVDs e isso nunca teve nada a ver com vendagens, e sim com contratos.
Uma outra parte dentre o grupo de artistas, uma imensa maioria, vive à margem desta indústria e não sofre os efeitos nocivos da pirataria. Continuarão sobrevivendo de seus shows e das pequenas vendas do seu material.

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